O Governo Federal e Estados do Brasil realizaram até agora aproximadamente 72 a 85 testes a cada 100 mil habitantes. O número é baixo quando comparado com outros países. Segundo dados governamentais e do site Worldometers, na Alemanha, por exemplo, essa taxa é de 2.497; na Itália, 1.966; nos EUA, o índice é de 1.580; e na Coreia, de 1.141.
“A falta de testes, as falhas nas avaliações realizadas e o pouco controle do governo sobre esses dados comprometem qualquer estratégia de combate à contaminação pelo coronavírus no Brasil”, alerta Maria Beatriz Gonçalves, estrategista da Purpose, responsável pela campanha nacional por mais testes de coronavírus, promovida de forma virtual por meio de projeções em prédios nas principais capitais brasileiras, pelo site www.janeladapressao.com.br, e nos perfis no twitter.com/janeladapressao e instagram/janeladapressao. Entre as cidades que tiveram projeções está Manaus, onde a situação é das mais dramáticas no país.
A testagem é especialmente importante nos casos assintomáticos. De 25% a 50% dos infectados não desenvolvem sintomas, segundo a Universidade de Columbia, mas podem ser responsáveis por até dois terços da contaminação. “Apesar de todos os esforços do governo, se o Brasil não elevar drasticamente a testagem para o coronavírus, nos manteremos em trajetória ascendente de contaminação por mais tempo que o necessário”, alerta.
“Muito se fala sobre os efeitos do confinamento sobre a economia, mas quase nada está sendo feito para repetirmos aqui o exemplo da Coreia do Sul, que não entrou em quarentena porque testou milhões de pessoas e, com isso, conseguiu controlar o contágio”, explica Beatriz. Na Coreia do Sul, as autoridades públicas agiram rápido para conter o surto. Em duas semanas após a primeira confirmação, o país criou uma estrutura de guerra para aumentar a testagem dos sul-coreanos. O país, que tem cerca de 50 milhões de habitantes, passou a produzir 100 mil kits por dia e a controlar cada passo de pacientes com caso positivo.
Apesar de defasados, os dados indicam que a desigualdade social influencia na taxa de mortalidade: de todas as hospitalizações pela Covid-19, 18,9% são de pessoas pardas e 4,2% de pessoas pretas, mas as porcentagens sobem quando se trata de óbitos, ficando em 28,5% e 4,3%, respectivamente. Do outro lado, as hospitalizações de pessoas brancas representam 73,9%, mas em óbitos elas caem, sendo de 64,5%. O que significa que, proporcionalmente, a doença é mais letal em negros e negras. “Esses números mostram que é muito importante saber quantos testes foram feitos nas periferias e favelas e qual é o percentual de pessoas negras e brancas testadas para avaliar se o tratamento está adequado”, aponta a executiva.
“Esta parece ser uma situação sobre a qual o governo pouco pode fazer, mas não é verdade: como o exemplo dos Estados Unidos comprova, é possível redirecionar a produção. Além disso, é possível agilizar convênios com universidades e laboratórios de instituições públicas e privadas. É por isso que a sociedade precisa cobrar respostas mais efetivas”, sintetiza.
